domingo, 25 de janeiro de 2009

Aveiro | Tudo o que há-de vir

Numa madrugada densa de nuvens como manda o misticismo português há-de vir alguém que me torne inverosímeis as anteriores defenições de expectativa. Há-de vir um vento que me fustigue os lábios, que me faça arder os olhos e chorar e que limpe o que não fui e não me importo.

Num dia de Sol ora animoso ora tímido, constante na desmesura, há-de vir um pedaço da mais fantasiosa narrativa, do desejo mais breve e estanque, da mais intransponível abnegação que desejo acima de várias outras coisas. Quem me aprendeu não diria.

Num fim de tarde como o de hoje vou estar sozinha e permeável e tudo hoje está em reposo inalterado e não me afecta.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Aveiro | Não queres assim tanto ouvir como foi o meu dia...

Então não queres ouvir sobre o meu belo dia. Então não queres ouvir sobre os meus bons amigos. E não tens coragem para distinguir a verdade das consequências e chamas-me "retraída". Não estou a sugerir que venhas a gostar de mim, nem que te interesses ou te questiones sobre as pontes que bombardeias todos os dias. Prefiro ser maníaca do pormenor do que vulgar sofredora de coração partido. Quero o detalhe de toda a angústia e miséria, os números do teu dia importantíssimo. Meu Deus! Tem sido um dia fantástico mas gostava de te levar a ver as luzes. Gostava de fazer mais que sobreviver. Tudo me corre de maneira que é a minha. Não vou falhar num dia de Sol. Impensável.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Coimbra | Páro para não pensar...

"Este pode ser o telefonema da sua vida" ouço a rapariga dos programas da madrugada dizer na televisão. Sempre diferente ela, não sei quem é nenhuma delas.

O despertador toca, tocou, pém pém pém pém pém pém levanto-me não olho o espelho, que desmazelo ja sei não vou olhar, para quê, ligo a água quente na banheira e deixo correr, desço á cozinha, pressiono o botão do fogão automático e ele sozinho tic tic tic chama pronto. Bule em cima da chama com água, mais uma boca com outro bule - leite. A água pois é um cilindro e não um esquentador subo, dispo-me olhar para quê que desmazelo já sei hoje tenho aquela aula para apresentar não vou olhar se não não vou. Cabeça para baixo, creme hidratante, secador, está. Vestir. Não vou olhar visto o de ontem não posso correr ricos de rabugices hoje de manhã. Se ontem saí assim hoje faz de conta que também fica bem. Merda o leite. A água é só água mas o leite fica castanho quando queima. Lá se foram os teus cereais. Ia acordar-te Olha o leite quente anda fazer os cereais. Depois fazes tu era só uma atenção mas é daquelas que se fizer é porque sou atenta, uma querida, se não fizer tu não vais saber que me falhou a intenção, sou uma querida na mesma por outras coisas exógenas aos momentos matinais taciturnos. Resulta, boa! Gabardine. Está a chover claro. Caracóis quais caracóis? Antes cabelo pregado á cabeça, antes enriços, ninhos. Levantas-te não sabes do episódio do bule-leite. A água! Olha que é cilindro já usei cuidado. Ela também se levanta direita á cozinha, eu Ah! O lápis dos olhos. Está a chover, inútil, deixá-lo, lápis nos olhos versão Courtney Love hoje de manhã bonito. Queres torradas, Não como de manhã, E tu queres, berras mas Ele está no banho. Faz que ele come, Mas ontem não quis, Ontem acordaste cedo? É que estavas a durmir quando saí. Levantei-me logo a seguir ele também. Não queres mesmo comer, Afinal sim para depois cigarrito e café sabes faz mal em jejum e antes da aula tem mesmo que ser no Bar das Matemáticas se houver tempo ás e um quarto não entra mais ninguém na sala, não está mal. Liga a tv vou buscar um cachecol, emprestas-me o roxo? Leva. Olha agora vou eu. Cruzam-se nas escadas Vais tomar banho de água fria. Merda quem é que ainda tem cilindros em casa? As torradas? Não fez ainda, pede-lhe quando sair do banho, vou ver os headlines e sair já não vou a tempo de ler o jornal nem levantei dinheiro, os teus cigarros? Estão lá em cima na nossa mesa de cabeceira. Traz-me o gel de banho ficou no saco do Jumbo de ontem com as outras coisas do quarto de banho. 'Tá bem. Toma - a água está gelada que nervos. É horrível, temos que coordenar melhor estes banhos. Um prato, dois ou três? Já não te disse que ia sair agora. Vocês comem á mesa de manhã? Que chique! Dois pratos. Compota, mel, manteiga. Temos compota em casa? Quando compraste isso? Ontem. Não vi. Olha depois passa nas cópias traz a sebenta de cálculo I, aquilo é mesmo só para dizer que tirei as cópias, não faço a cadeira. Deixa ouvir. Não sei das chaves. Nunca sabes. Leva as minhas. E tu? Depois da aula vem ter lá abaixo ao café.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Aveiro | Várias perguntas no mesmo dia...

Ainda não descobri se me impressionas ou me fazes impressão. Talvez seja a minha mente fantasiosa a fazer mais do que aquilo que normalmente lhe exijo para manter a cabeça á superfície. Não sabia que ia ser tudo tão diferente agora que eu já não tão impressionável, nem permeável, nem á escuta muito menos atenta ou observadora. Foram estas coisas, inocentes coisas, que levaste no teu passo concluso que foi o que usaste naquele dia em que saíste de lá com ela e não comigo. Hoje estou tristemente consciente que já não é a tua falta que me faz falta, tu já não és aquilo que preciso mas deixei muito para trás por pensar que sim. Prefiro não pensar quantos minutos tem um ano - os mesmos que encerram olhares despudorados aos quais nunca liguei, os mesmos de noites á chuva com os auscultadores a cantar alto na rua. Roubaste-me as loucuras, nem contigo mas deixaste fazer.

Aveiro | A contar metades de possibilidades...

Pergunto-me se haverá uma outra forma menos dolorosa de me levantar da cama. Não pode ser este tormento para toda a gente ou não haveria pão fresco ás 7 da manhã. Dizem que há, eu não saberia.

Pergunto-me, mais a querer que tu me digas, se tudo isto a florescer diante dos meus pés é um fenómeno científico qualquer despoletado pelo aquecimento global que fez a Primavera vir mais cedo ou se eu a imaginar coisas. Há dias em que me ataca esta simplicidade vulgo falta de talento e não consigo engrenar numa narrativa concisa. Talvez seja deste cheiro a flores.

Pergunto-me se estas anáforas estão a fazer alguma coisa por mim ou pelo texto sendo os dois um só a maioria das vezes. Saberás dizer-me porque é que de repente, onde não havia possibilidades, as há agora sem que sejam para mim mais acessíveis só pelo facto de as reconhecer?

Queria que te afogasses, como eu, no amor por alguma coisa. Com violência.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Aveiro | Celebrar a existência

Hoje, motivado pela comemoração do nascimento de uma das presenças mais intransponíveis do meu crescimento, o meu texto é pragmático e despudorado, sem preciosismos, mais um dos teus ensinamentos.

Passaram qualquer coisa como quinze anos desde que nos conhecemos. As pessoas adultas que conheço não têm amizades há este tanto tempo. Em muídas fizemos aquelas coisas todas, raras coisas, de quem tem companhia na beleza da inconsciência - depressões arquitectadas exclusivamente para aquela tarde enquando ouviamos Onda Choc a pensar em algum rapaz da escola primária.

Depois, num tempo em que ainda miúdas, coleccionámos recortes dos jornais desportivos do teu Pai, o Vítor Baía e o Paolo Maldini e o Carlos Moya e todos esses monumentos como o Vinho do Porto. Algarve e o Europeu de 2000. Não houve assim mais nenhum.

Depois liamos Harry Potter e tinhamos aulas numa Hogwarts online, pelo velhinho mIRC, e não quisemos nunca crer que aquele era um Mundo de fantasia. Quero-me convencer que os livros são ficção porque a alternativa é eu e tu sermos enfadonhos Muggles e eu não ia conseguir viver com essa certeza.

Um tempo depois, foi o choque de saber que um homem como o Kurt Cobain estava morto. E aí, esse sim foi o momento que nos definiu. Aquela linha esbatida e breve, entrecortada por incertezas e rebeldias estéreis que hoje me parecem tão irracionais quanto belas e delas tenho umas saudades portuguesas, que nos transformou para sempre no que íamos ser para o resto da vida. Um pé na normalidade, outro nas camisas de flanela, nas calças rascadas, no sentir de mais. Depois os dois pés no sentir de mais e até hoje, mesmo que por vezes disso me arrependa, ou me custe, ou sozinha á noite "Porque é que sinto tanto?" aqui permaneço.

Depois disso fomos para escolas diferentes mas como temos exactamente a mesma morada com apenas um andar de distância e, mesmo assim, esse andar é ocupado por outra grande amiga, era como se vivessemos permanentemente juntas. Eu jantava em tua casa e depois tu:
-Vou levar a Ana lá a cima.
E depois, cá em cima, eu para a minha mãe:
- Vou levar a Ana lá a baixo.

Depois aconteceu a faculdade, e a ingressão em cursos pelos quais somos apaixonadas. Depois tu em Milão, depois eu contigo em Milão. Portishead em Florença e de volta a questão: "Porque é que sinto tanto?"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Aveiro | Diz-me o contrário

Tentei, prometi a mim e a uns quantos outros que ia mudar. Uma metamorfose forjada na condescendência que odeio. É mentira. Para lhe reconhecer valor tinha que mudar os cânones pelos quais vou regendo a minha apreciação da estética. Adaptar-me, obrigatoriamente. E isso significa que eu não estou a meio do caminho porque sou disso o oposto. Ou estou muito bem ou muito, muito mal por essas directrizes.

Eu tentei. Tentei valorizar a mediocridade que parece satisfazer a todos. Eu tentei. Tentei enumerar as coisas que me fazem feliz e que já tenho aqui, quietas. Escassez. Perguntei a estranhos o que os fazia sorrir e as pessoas ficaram assustadas e imediatamente tristes. Não era minha intenção. Serão os hábitos assim tão intransponíveis e o alheamento assim tão sideral que quando nos confrontamos (ou nos confrontam) com o questionamento das bases da nossa felicidade, todos os sorrisos se emaranham ante a certeza da fragilidade deste abstracto?

Não. Não pode ser tudo assim. Há coisas. Outras coisas inúteis e perfeitamente periféricas mas no fundo são as pequenas consolações vis e mundanas que nos tornam menos miseráveis. Como, por exemplo, a consciência da ainda maior mediocridade dos outros. Que tipo de ser é o humano?

Nos meus dias menos bons ainda possuo essa tentação de jurar a pés juntos, pelo Pai e pela Mãe, que estou dessa pessoa a tantos anos luz. Pois só posso estar para serem as coisas desta forma e não de outra. De algumas pessoas não estou. Á maioria, no entanto, nem lhes distingo os contornos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Aveiro, Coimbra, Aveiro - Aqueles dias...

El rejor marca la nueve menos cuarto. Yo sé que deberia levantarme pero me quedo navegando en internet hasta a las tres de la mañana. Me acosto tardísimo. Todavia, los libros, mís cuadernos y mís bolígrafos me roban todas las horas. Yo soy una chica sencilla: me gusta espagueti con atún e salir por la noche como a todos los juvenes pero prefiero siempre una terraza tranquila, bañada de un sol terrible y seguir longas horas hablando com mís amigos. Siempre estoy enamorada de cosas muy simples como los nuevos zumos o nuevos yogurtes de cereza o fresa en el supermercado. Ahora vivo en Coimbra porque estudio Periodismo pero soy natural de Aveiro - una pequeña cuidade con playa. Perfecto.

40000 erros ... mas um espanhol entender-me-ía. E isso sim, é a verdadeira utilidade da língua.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Aveiro | O alcance de um imbróglio...

Vá-se lá saber porquê as pessoas arranjam sempre um ódio de estimação a qualquer momento da vida. Normalmente não fundamentados, estes "tiques" dirigidos a pessoas ou a objectos ou a momentos dificilmente se libertam da alma, só depois de muito tempo longe dos visados.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Aveiro | O meu reino por um apartamento nos trópicos

E é isso, o título. Era só isso que hoje queria expressar...

O Grande "Descansa em Paz" do Universo

Se o Big Bang realmente aconteceu, o futuro do Universo - especialmente o seu fim - pode ser contado em muitas histórias, e entre elas está o Big Rip. Esta hipótese cosmológica foi proposta em 2003, afirma que tudo desde galáxias até aos átomos e mesmo as partículas sub-atómicas serão desfeitas pela expansão do Universo.

A teoria baseia-se no tipo e na quantidade de energia e matéria negra no Universo. A questão está entre a razão da pressão da energia negra e a sua densidade energética, variável fundamental para se perceber o comportamento futuro do Universo. Se a matéria negra entrar no estado de Energia Fantasma, tal causaria o crescimento acelerado e descontrolado do Universo.
Um crescimento tão rápido leva a que as forças da física percam o seu poder de interacção. Independentemente de se tratar da Gravidade, Electromagnetismo ou Força Nuclear (Forte ou Fraca). Assim tudo será separado e desfeito em partículas sub-atómicas.

Numa fase inicial as galáxias irão afastar-se-iam umas das outras, curiosamente é o que está a acontecer neste momento. 60 milhões de anos antes do fim, a gravidade seria tão fraca que as galáxias se iriam desfazer. Três meses antes do fim, os sistemas planetários perderiam as reacções gravíticas entre os seus corpos. Nos últimos momentos, estrelas, planetas, luas e afins serão despedaçados.

Depois desse momento o Universo não passaria de um sitio cheio de partículas miseravelmente pequenas, sem forças nem energia. Calcula-se que se isto acontecer seja dentro de 50 mil milhões de anos.

fonte: blog - "Perspectivas Abertas"