Ela queria um copo de água. Quem atendia no café estava há p'ra cima de um quarto de hora perdido no armazém e só se ouviam latas de cerveja a bater umas nas outras. Pensou em ir chamá-lo mas prendeu-a um cartaz do outro lado da rua. Teve que fechar um olho para ler. E pensou que é muito estranho ver-se melhor com um olho fechado do que com os dois abertos. E nesta situação nem era por querer. Quer dizer, o escolher ver parcialmente.
O rapaz que serve lá saiu lá de trás mas ela estava numa mesa atrás de um pilar que ficava no meio do bar que à noite funciona como discoteca e agora estava vazio. Ele não a viu e, de qualquer forma, era o cartaz do outro lado da rua, enrolado à volta de um poste de electricidade, que lhe prendia a atenção. Foi quando ela se levantou e espalmou as mãos no vidro do café para ler o cartaz. Sempre carros a passar. Muitas pessoas a parar ali. É uma paragem de autocarro. Engraçado como toda a gente traz um lenço de qualquer tipo.
É rádio que passa no café à tarde e não uma lista de músicas conhecidas como à noite. Pareceu-lhe ler "AULAS..." ( de quê?). Entretanto começou a ouvir rádio e o rapaz veio lavar o chão com uma esfregona ensopada. O som da água atirada ao chão. Ela esqueceu-se de pedir o copo de água. Serias aulas de ..." YOGA"?
"São esperados aguaceiros em todo o país."
E, quando a nuvem veio, ela encostou a cara ao vidro para ver aquele último raio de Sol que faz um risco no céu que as máquinas fotográficas modernas fazem desaparecer em prol da nitidez da paisagem. O Sol encadeia. É benevolente.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
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