terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Coimbra | Got vicodin?

A dormência começa nos lábios, semi-abertos há horas agora. Abreviei todos os grandes momentos da minha vida. O chão gelado de onde não me consigo levantar. Os maxilares doridos e as lágrimas a fazerem-me cominchão nos cantos dos olhos. O sabor salgado que se mistura ao muco deslavado que corre do nariz. As mãos estendidas ao lado da cara prendem o cabelo. A tejoleira já não me parece tão gelada como parece sempre tudo o que está numa cozinha durante o mês de Feveveiro. Começo a ouvir os vizinhos de baixo, ouço a música da rádio e depois as notícias (eles têm aqueles despertadores que despertam com música da rádio) e depois o autoclismo e depois o chuveiro. Os talheres e as portas dos armários, tudo tão nítido como as cores que vou dando aos seus pijamas, aos seus cabelos. Sempre que me deito aqui penso como será que não ouço ninguém nos outros dias. Agora talheres e os talheres outra vez a serem largados na banca de inox. A máquina moderna de café, o som do jacto de água a furar a capsulazinha preta, metalizada e brilhante da Nespresso: "intensidade 10".

2 comentários:

Nehashim disse...

It Can't rain all the time..

T. Geiroto Marcelino disse...

Olá!

Vi o teu "anúncio" de já, provavelmente, há algu tempo, na casa de balho do Tropical. O engraçado é que esse foi o meu último dia em Coimbra, de uma estadia curta de três dias.

Gostei muito do que li do teu blog e vou continuar a ler; identifiquei-me em particular com este texto, mas toda a tua escrita é fascinante. Sabes escrever. Sentes e sabes fazer sentir - e tudo por palavras.

Enfim, muito talento.

Tânia.