domingo, 30 de novembro de 2008

Aveiro, 30 de Novembro O8 | De volta á cidade das minhas luzes...

Indefinidamente procura-se isto, procura-se aquilo, perseguem-se dias iguais aos anteriores a achar que corremos para a realização de um objectivo, a achar que aquele reconhecimento daquele homem, daquela mulher, aquela viagem, aquele vestido, aquele Sábado á noite é que vai fazer a diferença. Esse sim. Essa tal coisa banal na qual delegamos toda a responsabilidade de nos surpreender, essa tal coisa que, por alguma razão que ninguém sabe, vai ser o "a-ah" das nossas vidas. Deixem-me dissolver desde já o benevolente mistério: nunca é. Fabricamos motivos para nos arrastarmos por mais uma semana, considerando e orquestrando com estranho afinco uma mudança para próximo mês ou para "os meus anos" ou "nos teus anos", depois do Ano Novo, "a partir do Natal". Uma mudança para a qual marcamos datas específicas porque não as conseguimos começar... como hei-de dizer... vá, ... agora. Sim, porque esperar por acontecimentos aleatórios, sobre os quais temos pouca ou nenhuma influência no seu desenrolar é imaturidade ou é preguiça (na melhor das hipóteses). Há momentos que nos mudam a vida mas a vida que já nos ocupa faz-nos voltar a procurar outros momentos, outros dias, outros tipos de luz que iluminem outros rostos em outras salas, só para descobrir que afinal também não era nada disto que querimos ter pedido para jantar.

sábado, 29 de novembro de 2008

Em Paris...

De Le Peletier em direcção ao Palais Royal para ver o Louvre. No caminho, as esplanadas tomaram-me o olhar, são tantas e tão diferentes, todas antigas, mas todas diferentes. O café M, onde parei, é meio negro, meio alaranjado nas paredes. Fiquei cá fora a ouvir Piaf nas colunas. A sério que se passou assim: passava Piaf no primeiro sítio onde parei.
As mesas cá fora são de madeira e os bancos de verga entrançada. Pendurada por cima de cada mesa está uma resistência que me aquece por inteiro, como aquelas das casas de banho. Sabe-me sempre tão bem o calor, qualquer um. Este então, nesta cidade tão fria, independentemente de toda a gente, de todos os segredos, de todo o sangue, da grande parte da História e das estórias que lhe pertecem.
Os pequenos arbustos estão por todo o lado - estão mesmo quase em cima das mesas, nos canteiros que ajudam a praça a tornear os seus limites.
Gosto de Paris porque se come tarde, porque se vive o dia vivo até mais tarde, porque às dez ainda posso ir lá abaixo ao mini mercdo da fruta. Porque se fuma muito. Porque nada precisa de frigorífico com o tempo que está.

Tudo é verde e bordeau, o chá é servido em bolsinhas toscas de sarrapilheira e o açúcar é prensado em forma de corações, áses de ouros e flores de lis.
Tenho uma admiração renovada por quem cortou com esta cidade os laços do que aqui lhes poderia ter acontecido.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Coimbra, 25 de Novembro 08 | Calor soviético...

... Ás 8 da manhã eu já toda acordada a pensar no teste de Géneros Jornalísticos. Um filme antigo, é o que se sabe. Qual? Um artigo para um editorial específico do jornal - Mundo?, Hoje?, Destaque?, Media? -, uma peça - Uma crónica?, Uma notícia breve? - De quantos caracteres?

Está um frio horrível e eu não tenho cachecol e estou com dores de garganta, pego num casaco mais fininho e ponho á volta do pescoço. A subir a rua que é uma rua a subir muito, o vento fustiga-me os olhos, não sei para que é que os pintei, o nariz fica vermelho e os lábios partidos e crespos, as mãos frias e o cabelo gelado. O nariz a fungar e tu "Bom dia". Hás-de estar gelado com esse cabelo molhado a tapar-te parcialmente as orelhas. Meu Deus que vento!

Digo-te aquele tipo de frases completamente estéreis:
- Já estou cansada e ainda mal acordei.
- Vou buscar um café, anda comigo lá a cima.

Eu quis dizer que ia mas como as mulheres têm sempre a mania de ser fazer de difíceis e eu, sou, de facto, uma rapariga, raça que desprezo mais do que admiro, disse:

- Vou ficar aqui com a Vanessa a dividir um cigarrito.

E, não contente com a minha asneira (mas consciente dela), acrescento, pioro e sorrio:

- Não queres trazer um para mim?

O frio que me rasga os tendões do pulso é o mesmo que nos faz tentar lembrar dos nomes dos ossos dos dedos. Os picos que sinto nos poros das pernas são aqueles de quando estamos na piscina horas a fio porque somos pequenos e parvos e preferimos ficar roxos que parar quietos ao sol. Doem-me os ombros e os rins de estar tão comprimida dentro dos meus próprios músculos. Estou sempre a apertar o tronco entre os dois braços e a cruzar e descruzar as pernas e esfregar as mãos uma na outra e depois nas coxas e depois entalo-as no meio das pernas. O outro frio é o dos diálogos interiores e unilaterais que vou entremeando com a minha própria consciência ou então sozinha mas com outras pessoas, que conheço, e vou propondo frases e contrapondo respostas que essas pessoas nunca me deram. Por vezes até falo alto a fazer isto. Imagino o que me diriam se eu dissesse. Mas raramente digo. E dou entoação aos dois discursos baseando-me naquilo que acho conhecer do meu oponente. Antecipo a sua participação na conversa e depois falo eu. O estúpido é que raramente nos ensaiamos para aquelas respostas severas que não queremos ouvir, as únicas para as quais seria sensato (mas não útil) estar preparado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Coimbra, 24 de Novembro | Aquela estranha noite - I

Lotação esgotada em todos os sítios do costume. Viemos aqui ter para ver tanta gente e não ouvir ninguém. Toda a gente sorri (nunca vou saber porquê) e a música a fazer ricochete na minha caixa torácica, o beat grave a pulsar na jugular como se tivesse subido muitas escadas a correr com pressa de chegar a algum sítio merecedor. Já nem me lembro a última vez que corri com vontade para alguém ou algum sítio. Para ti nunca corri porque não gostas de demonstrações públicas de afecto, aquilo a que chamas sem pensar (ou a pensar?) “figuras tristes”. Ao pé das colunas, as pessoas berram para se entenderem e não falam olhos nos olhos falam boca na orelha e riem-se com a impossibilidade de comunicarem. As luzes, as que há, piscam a uma velocidade horrível e eu vejo-te intermitentemente. Vejo aos soluços um corpo ora brilhante ora ausente e durante uns segundos penso que, provavelmente (e por agora) estamos bem assim. Mesmo assim, sem distinguirmos um ao outro os contornos.

domingo, 23 de novembro de 2008

Aveiro, 23 de Novembro 08 | Words of sunday morning...

... Depois de outro Sábado, barulhento e esgotado em todos os sítios e de todos os ângulos, é a apreensão que vem substituir a morrinha laça dos Domingos dos outros ditos saudáveis . De mim ausente, principio mais um exame de consciência. Não fica uma ferramenta mais útil com o tempo porque eu nunca conto a mim mesma todas as partes da história. Umas estão debaixo de uma luz constante e quente, outras estão do lado oposto do passeio e espero que não venham perguntar-me como vai a vida.

Vou comer ao meu sítio de sempre ( até quando irei lá para me sentir em casa?), a faltar muito pouco para as quatro da tarde como sempre.
- Posso sentar-me?
(a tua mão desce pelo meu braço até á minha mão e apertas a minha palma em concha entre o polegar e os outros dedos)
- Onde quiseres.
Não sei como é que nunca soubemos dar-nos uma outra tentativa. Quando me chamaste ao armazém achei que estava prestes a ouvir um sermão de um amigo "happly married", adulto e seguro. Nada disso. O meu medo não tinha razão de ser. Agora tem. Estou assustada por ter a certeza que é possível, por tão pouco, delegar ao tempo a missão de nos fazer felizes. Sem pensar mais nisso como quando se contrata um contabilista e achamos que isso é sinónimo de não termos mais problemas financeiros. Entreguei-te ao tempo. Não tenho dúvidas que te entreguei ao tempo e tu também me entregaste ao tempo mas a um tempo perdido que tu já não conjugas. Um tempo diferente do meu que afinal continuo a contar a nossa história no condicional.

O que é que o tempo vai fazer contigo não sei, espero que te faça um pouco mais egoísta e egocêntrico. Não espero viver para ver o dia em que me digas que já não te lembras de ter trabalhado na redacção de um jornal.

sábado, 22 de novembro de 2008

Aveiro, 22 de Novembro 08 | A boneca

Quando a vejo a correr-me para os braços esqueço grande parte se não mesmo todas as neuras, todos os desgostos, todos os "quases" e todos os objectivos da semana que eu deixei a meio erradamente embriegada pela minha aparente juventude, confiante na eternidade das horas. Ela é completamente despreocupada e imperfeita a pintar, e borra os cadernos novos com a borracha porque ainda não sabe que o lápis se apaga com a fricção enérgica da borracha contra o papel. E escreve por cima e não se percebe nada. E carrega muito nas canetas como eu ainda faço hoje. A Mafalada também quer por flores no cabelo e fugiu-me com o meu gancho preto com uma rosa preta e diz que é dela agora. A genética é só mais uma realidade incontornável. A minha irmã é igual a mim em algumas coisas e eu não gosto de mim metade do que gosto dela. No outro dia agarrei-lhe os braços com força e fi-la prometer que vai sempre gostar dela própria. Acho que a assustei.

Queria poder salvaguardá-la de um amor não correspondido, queria que ela nunca tivesse que ter certas certezas déspotas e inúteis.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Coimbra, 21 de Novembro | Ter nas banalidades companhia...

... Quando sai deixei-te a dormir. Dormias o sono dos justos e por muito que te quisesse acordar para o meu revestimento dos mesmos factos, não sei resistir a um paradoxo. No caminho pensei na noite que passou, no quanto eu quis ler com olhos de interiorizar e estava sempre a perder o fio á meada e o quanto isso me irritou (ontem?).

A tua presença é tão rara que só com sincera hipocrisia inútil posso dizer que não estive todo o tempo a pensar nas baforadas do teu cigarro (o que me mata é que exalas o fumo e ouve-se). Sei que existes longe de mim. Sei que te ausentas mas és tu na mesma, no teu dia-a-dia também escolhes o que vestir ás três pancadas, antes de abrir a janela e reutilizas 3 quartos da indumentária do dia anterior, mais peça menos peça. E ligas o computador enquanto preparas cereais e aqueces o leite no micro-ondas. E procuras os cigarros nos bolsos das tuas calças de fazenda fininha. Também sei que no Inverno vestes calças de pijama por baixo das calças de ganga (entretanto ainda não te vestiste). Pegas nos cereais e vens-te sentar á frente do computador. Os teus olhos parecem as junções das persianas com aqueles espaços minúsculas, horizontais recortados no plástico que dixam entrar o sol intermitentemente. Tu foste uma expressão truncada que eu tomei por resumo do diálogo. Foste a pestana que faz a palpebra doer mesmo depois de a termos tirado de lá com um guardanapo com a ponta enrolada. Vejo-te sempre lembrar-me que quando peco, peco por excesso.

E da tua cama, com a ponta do cobertor como cúmplice obediente da minha vigília, vejo-te na casa de banho, a porta entreaberta: com uma mão seguras as madeixas do teu cabelo empastado da cama por cima da testa e com a outra molhas só a ponta dos dedos e passas nos olhos. Só para não parecer mal. Não sei porque é que insistes em não acordar a sério. Que venha agora a cavalaria das outras penas que diante da pena de não te ter, não são pena nehuma.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Coimbra, 20 de Novembro 08 | "Um fio de fumo nos confins da escada..."

Estamos assim, confortáveis na ignorância que não o é e hábeis manuseadores de situações delicadas que também o vão sendo cada vez menos. Peritos em manobras de diversão, é o que é.
Que bom foi inalar pela primeira vez o cheiro deste quarto, da tua camisola, da fronha da almofada que tem o cheiro do shampoo por tomares sempre banho á noite.
Eu aqui e tu ai, tu a carregar frenéticamente nas letras do teclado (quando eu escrevo não se ouve tanto), tu com os olhos semi-cerrados do cansaço que não assumes. Imagino o quanto te deve apetecer dormir.
Subi para ler um pouco bem sei que me desconcentro com facilidade quando não quero ler o que estou a ler. Nem quero ler. Ponto. Em breve (tu a fumar á janela) vais subir e eu vou estar já muito mais perto de ti do que a distância que vai do teu tronco ao meu quando finalmente subires.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Coimbra, 19 de Novembro 08 | spending the night together?

Ontem quando subi para me deitar tu ainda ficaste no computador...a luz do ecrã a iluminar-te os papos debaixo dos olhos. Ficaste no meu sofá antigo e desconfortável com as costas na parede e o queixo dobrado por cima do pescoço. Duvido que estejas bem assim.
( -Estás bem assim?
- Estou. )
E se um dia eu deixasse cair um copo e aproveitasse o teu susto? Punha um ar afectado e, escandalizada, perguntava porque é que preciso de partir coisas para olhares para mim. Iamos rir-nos os dois, com sorrisos rasgados, de mais um episódio da minha angustia velada. Porque nos queixamos um do outro com ironias e sarcasmos, discutimos com entoação de brincadeira para não nos levarmos demasiado a sério e termos que discutir a sério e analisarmo-nos a sério. De um lado a tua desconfiança de outro a minha descrença que é o mesmo que dizer, "uma mão cheia de nada outra cheia de coisa nenhuma".

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Coimbra, 18 de Novembro 08 | My friends and my friends and my car and my friends...

Já era tempo de abandonar a preguiça e as desculpas e pegar num carro. Guiei duas horas, sem dificuldades de maior, estacionei, dei "a esquerda á placa" nas rotundas e "não pisei nem transpus a linha longitudinal contínua". Ás oito da manhã do próximo dia 25 tenho mais uma aula. Pelo que disse o instrutor, "agora é só aperfeiçoar". Quanto mais rápido melhor. Só não tenho pressa para fazer ponto de embraiagem nas ruas da Sé Velha. Não é fácil aguentar duas forças, há sempre a probabilidade mais que provável de me deixar descair de novo até ao início da subida. Eventualmente, terei que a subir. Com certeza que me vai saber bem subir a rua e olhar as dificuldades lá de cima. Como quem abandona o caos e prossegue numa rua mais ampla, mais segura, mais recta.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Coimbra, 17 de Novembro 08 | "Os cínicos não servem para este ofício"...

" É um erro escrever sobre alguém com quem não se partilhou pelo menos um fragmento de vida", uma sábia frase de Ryszard Kapuscinsky (com acento no "s" e no "n", grafia não contemplada no nosso sofware), reporter polaco, que não acredita que se possa ser bom jornalista sem ser, primeiro, um bom ser humano. Não é possível refutar. O meu professor de televisão dizia que não precisa de jornalistas que não se compadeçam das crianças que todos os dias se deitam com fome sem perspectivas de uma manhã melhor. Não precisa de quem não chore, de quem despreze a importância do contacto humano. Quando o jornalista deixa de querer ouvir o dono de uma tasquinha em Trás-os-Montes para ouvir o dono de uma cadeia de supermercados norte-americana ...

Este é o tipo de assuntos que não acabam mais. Vou continuar a conversa com alguém mais da tasquinha e menos da multinacional.

domingo, 16 de novembro de 2008

Coimbra, 16 de Novembro 08 | Tinha de ti outra ideia...


Não te fazia tão linear, tão compartimentado. Eras do tipo de ir a net ler a letra de uma música - se eu cantei uma certa parte sem cantar as outras partes era porque aquela parte queria dizer alguma coisa e tu querias saber. Não te conheci a achar que havia limites na expressão. Já te vi a correr para não perder o fogo de artifício da festa da tua vila. Já te tive de mão dada a tentar descobrir portas de prédios abertas para subirmos aos telhados. Um dia esperámos na praia que chovesse. E como era Verão choveu aquela chuva que vem lenta, os pingos caem espaçados, mais ou menos de 3 em 3 segundos, e fazem baraulho quando batem nos passeios de madeira que levam as pessoas aos bares da praia e nunca está frio nenhum. E quando começa a chover não são pingos que caem, são cordas de água, que nos ensopam em três tempos.
Lá porque os textos são sobre ti não quer dizer que não possam ser sobre ti ...

Todos os textos têm um alguém. Não me parece ser teu direito opinar sobre o meu alguém. Se não fosses tu a dizer, nem me lembrava que eras tu o alguém destes textos.

sábado, 15 de novembro de 2008

Aveiro, 15 de Novembro 08 | Arritemia sem ser figura de estilo

Iniciaste o telefonema a dizer "olha mor..." sem que essa expressão me fosse conscientemente dirigida. Nem tiveste noção, nem voltaste atrás, não corrigiste, não pediste desculpa. Nisto dá-se aquele estalo da realidade. Lá esta a expressão, gasta do uso.
Segui o meu caminho na ponte que antecipa o Largo da Portagem, quem chega de Santa Clara. O grande plano do largo onde me sento 80% das minhas tardes e isso são vários dias de várias semanas. E isso são também horas e minutos, e pessoas, e conversas, e livros com os cantos dobrados e frases sublinhadas, dias de vento e diálogos fugazes com pessoal de Erasmus e os turistas alemães (e eu a tentar muito custo lembrar-me de quatro ou cinco palavras e o pessoal a rir-se de mim que não quer crer que eu nao esteja só a inventar sons). São piadas de café, verdadeiro sketch material, e são as imperdíveis conversas das senhoras mais velhotas da mesa ao lado que discordam veementemente da Tv 7 dias e explicam porque é que sabem mais que a revista sobre a vida do Cristiano Rolando. É tudo terrivelmente mais do que hoje me é permitido descrever-te.
Depois de tentar controlar a arritemia, da qual sofro clinicamente, subi o Quebra Costas, pus na mala um casaco e o computador e voltei a descer para a estação. Dali a uma hora estava em Aveiro. Escolhi aquele dia como pudia ter escolhido outro qualquer. Semanalmente, arquitecto dezenas de mudanças ás quais juro fidelidade. Quando mais pondero menos faço.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Coimbra, 14 de Novembro de 08 | Mais conversinha sem jeito nenhum...

... E seguiste despreocupado com a tua a conversa enervante:
- Então e tenho que ter um cartão desses?
- Ou isso ou um MB net
( Explico: O MB net é um cartão criado exclusivamente para compras na Internet que tu carregas com o dinheiro que quiseres que pode até ser só aquele que precisas para fazer essa compra)
- E isso quanto custa?
- Não faço ideia. Falo com a minha mãe e depois digo-te.
- Está bem. Quando puderes. Obrigado. Beijo.
(O QUE É QUE EU TE DIGO?!)
- Até logo.
...Nisto tudo, tu, logo tu que nunca tiveste jeito nenhum com as palavras. Tu que nunca conseguiste erguer uma argumentação. Tu, contra quem nunca tive que me esforçar para fazer prevalecer o meu ponto de vista. Tu, francamente fechado e autoritário que num momento mais útil que este, nunca tiveste sobre mim qualquer domínio.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Coimbra, 13 de Novembro 08 | Conversas frias ...


Nunca mais tive os sonos reparadores que tinha antigamente. Nem agora, nesta casa nova, virada á Sé Velha, com colchão de pessoa e meia assente no chão á moda dos lofts nova-iorquinos. Pagava para me dizerem de que é que preciso porque não sei. É um grão na engrenagem que não sei como lá foi parar nem sei como de lá o tirar. Ligaste-me e puseste-te a enrolar, a enrolar com conversas com utilidade prática. Uma conversa tão verdadeira que não pude reconhecer-lhe um interesse velado, não pude reconhecer-lhe nada além do que foi.
- Quando compraste aquelas sapatilhas pela net pediram-te o código de segurança do cartão de crédito?
- Pediram.
- O que é isso? Só vejo aqui um número grande, separado de quatro em quatro. É o último?
(Porque é que haveria de ser o último?)
- O que tu tens é um cartão de débito e não de crédito.
- Ah… o quê?
- Sucede que só podes fazer contas na internet com um cartão de crédito, sabes, aqueles com que fazes compras e só pagas no fim do mês uma percentagem pré-estabelecida sobre o montante gasto.
(Fiz de forma a ouvir-te dizer: )
- O quê Ana? Pareces a tua mãe.
( Oh Deus a falta que me faz o conforto de ter que te explicar tudo. Por estes dias contento-me em ser o teu entreposto com a Caixa Geral de Depósitos, onde a minha mãe trabalha).