sábado, 10 de janeiro de 2009

Aveiro | Celebrar a existência

Hoje, motivado pela comemoração do nascimento de uma das presenças mais intransponíveis do meu crescimento, o meu texto é pragmático e despudorado, sem preciosismos, mais um dos teus ensinamentos.

Passaram qualquer coisa como quinze anos desde que nos conhecemos. As pessoas adultas que conheço não têm amizades há este tanto tempo. Em muídas fizemos aquelas coisas todas, raras coisas, de quem tem companhia na beleza da inconsciência - depressões arquitectadas exclusivamente para aquela tarde enquando ouviamos Onda Choc a pensar em algum rapaz da escola primária.

Depois, num tempo em que ainda miúdas, coleccionámos recortes dos jornais desportivos do teu Pai, o Vítor Baía e o Paolo Maldini e o Carlos Moya e todos esses monumentos como o Vinho do Porto. Algarve e o Europeu de 2000. Não houve assim mais nenhum.

Depois liamos Harry Potter e tinhamos aulas numa Hogwarts online, pelo velhinho mIRC, e não quisemos nunca crer que aquele era um Mundo de fantasia. Quero-me convencer que os livros são ficção porque a alternativa é eu e tu sermos enfadonhos Muggles e eu não ia conseguir viver com essa certeza.

Um tempo depois, foi o choque de saber que um homem como o Kurt Cobain estava morto. E aí, esse sim foi o momento que nos definiu. Aquela linha esbatida e breve, entrecortada por incertezas e rebeldias estéreis que hoje me parecem tão irracionais quanto belas e delas tenho umas saudades portuguesas, que nos transformou para sempre no que íamos ser para o resto da vida. Um pé na normalidade, outro nas camisas de flanela, nas calças rascadas, no sentir de mais. Depois os dois pés no sentir de mais e até hoje, mesmo que por vezes disso me arrependa, ou me custe, ou sozinha á noite "Porque é que sinto tanto?" aqui permaneço.

Depois disso fomos para escolas diferentes mas como temos exactamente a mesma morada com apenas um andar de distância e, mesmo assim, esse andar é ocupado por outra grande amiga, era como se vivessemos permanentemente juntas. Eu jantava em tua casa e depois tu:
-Vou levar a Ana lá a cima.
E depois, cá em cima, eu para a minha mãe:
- Vou levar a Ana lá a baixo.

Depois aconteceu a faculdade, e a ingressão em cursos pelos quais somos apaixonadas. Depois tu em Milão, depois eu contigo em Milão. Portishead em Florença e de volta a questão: "Porque é que sinto tanto?"

1 comentário:

Anónimo disse...

isto é daquelas coisas que só tu te lembras de fazer.

é sempre bom termos assim um momento em que olhamos para estas coisas todas, e nos lembramos do tempo todo que já passou entretanto. da quantidade de coisas que nós já fomos depois disto tudo.

o que quer que isso seja agora, obrigada por te lembrares e me lembrares que quando há histórias de 15 anos entre duas pessoas, não há muito que a distância possa fazer.