terça-feira, 25 de novembro de 2008

Coimbra, 25 de Novembro 08 | Calor soviético...

... Ás 8 da manhã eu já toda acordada a pensar no teste de Géneros Jornalísticos. Um filme antigo, é o que se sabe. Qual? Um artigo para um editorial específico do jornal - Mundo?, Hoje?, Destaque?, Media? -, uma peça - Uma crónica?, Uma notícia breve? - De quantos caracteres?

Está um frio horrível e eu não tenho cachecol e estou com dores de garganta, pego num casaco mais fininho e ponho á volta do pescoço. A subir a rua que é uma rua a subir muito, o vento fustiga-me os olhos, não sei para que é que os pintei, o nariz fica vermelho e os lábios partidos e crespos, as mãos frias e o cabelo gelado. O nariz a fungar e tu "Bom dia". Hás-de estar gelado com esse cabelo molhado a tapar-te parcialmente as orelhas. Meu Deus que vento!

Digo-te aquele tipo de frases completamente estéreis:
- Já estou cansada e ainda mal acordei.
- Vou buscar um café, anda comigo lá a cima.

Eu quis dizer que ia mas como as mulheres têm sempre a mania de ser fazer de difíceis e eu, sou, de facto, uma rapariga, raça que desprezo mais do que admiro, disse:

- Vou ficar aqui com a Vanessa a dividir um cigarrito.

E, não contente com a minha asneira (mas consciente dela), acrescento, pioro e sorrio:

- Não queres trazer um para mim?

O frio que me rasga os tendões do pulso é o mesmo que nos faz tentar lembrar dos nomes dos ossos dos dedos. Os picos que sinto nos poros das pernas são aqueles de quando estamos na piscina horas a fio porque somos pequenos e parvos e preferimos ficar roxos que parar quietos ao sol. Doem-me os ombros e os rins de estar tão comprimida dentro dos meus próprios músculos. Estou sempre a apertar o tronco entre os dois braços e a cruzar e descruzar as pernas e esfregar as mãos uma na outra e depois nas coxas e depois entalo-as no meio das pernas. O outro frio é o dos diálogos interiores e unilaterais que vou entremeando com a minha própria consciência ou então sozinha mas com outras pessoas, que conheço, e vou propondo frases e contrapondo respostas que essas pessoas nunca me deram. Por vezes até falo alto a fazer isto. Imagino o que me diriam se eu dissesse. Mas raramente digo. E dou entoação aos dois discursos baseando-me naquilo que acho conhecer do meu oponente. Antecipo a sua participação na conversa e depois falo eu. O estúpido é que raramente nos ensaiamos para aquelas respostas severas que não queremos ouvir, as únicas para as quais seria sensato (mas não útil) estar preparado.

Sem comentários: