sábado, 22 de novembro de 2008

Aveiro, 22 de Novembro 08 | A boneca

Quando a vejo a correr-me para os braços esqueço grande parte se não mesmo todas as neuras, todos os desgostos, todos os "quases" e todos os objectivos da semana que eu deixei a meio erradamente embriegada pela minha aparente juventude, confiante na eternidade das horas. Ela é completamente despreocupada e imperfeita a pintar, e borra os cadernos novos com a borracha porque ainda não sabe que o lápis se apaga com a fricção enérgica da borracha contra o papel. E escreve por cima e não se percebe nada. E carrega muito nas canetas como eu ainda faço hoje. A Mafalada também quer por flores no cabelo e fugiu-me com o meu gancho preto com uma rosa preta e diz que é dela agora. A genética é só mais uma realidade incontornável. A minha irmã é igual a mim em algumas coisas e eu não gosto de mim metade do que gosto dela. No outro dia agarrei-lhe os braços com força e fi-la prometer que vai sempre gostar dela própria. Acho que a assustei.

Queria poder salvaguardá-la de um amor não correspondido, queria que ela nunca tivesse que ter certas certezas déspotas e inúteis.

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