sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Aveiro | ... As figurinhas ...

Eu não sou de espartilhar o Jornalismo entre conceitos académicos amplamente descritos nos livros da communication research que, sendo fundamentais, por vezes descuram aquela pequena patologia da sociedade democrática que é... dar opiniões. É uma coisa que dá nas pessoas, pronto! De qualquer forma, e volto a sublinhar, sem demagogias, há coisas que podiam optar por se fazer de outra forma. Um jornalista há-de ser tudo menos uma pessoa sem opinião. Têm-na em stock, como Fords na Grande Depressão mas o seu escoamento não deve ser feito levianamente. Outra coisa que o Jornalismo não é, é uma profissão onde se possa "abandalhar", onde o rigor seja dispensável, onde se possa talhar caminhos e "ver no que dá". Há que antecipar as consequências do que veículamos porque o público não é uma massa acéfala que mal tem ideia formada sobre que azulejos por na casa-de-banho quanto mais sobre a ditadura da Bielorússia. Não é isto que se passa e as queixas atentas que chegam aos (poucos) provedores são disso um exemplo.

O telejornal de Sexta-feira na TVI é quase sempre uma surpresa. Toda a gente conhece o estilo de Manuela Moura Guedes e a humildade impede-me de prosseguir com quaisquer críticas mas O espaço informativo de hoje (assim mesmo, O espaço, porque o telejornal é "uma instituição" na programção televisiva, um género que fornece o grosso da informação diária á maioria da população) ultrapassou as minhas expectativas. Na conversa habitual com Vasco Pulido Valente, a pivot exagerou no comentário. Descontando umas contribuições menores, a certa altura, quando questionava o comentador sobre a recente certeza de que Pedro Santana Lopes irá representar o PSD na corrida á Câmara de Lisboa, Manuela Moura Guedes disse: "Quem mais poderia ser? Não vamos pensar no Morais Sarmento ou em outras figurinhas que por ai se falou." Está certo então! Cabe aqui aquela frase emblemática das séries de advogados - "I rest my case!" Claro que se entende o que a jornalista quis dizer mas vamos lá concordar que para comentar está lá o Valente.

Um pouco mais a frente a pivot disse: "Ó Vasco isto da política é uma coisa muito estranha. Até há bem pouco tempo havia a polémica de Manuela Ferreira Leite nem ter votado em Santana Lopes pr'ó Governo e agora apoia a sua candidatura á Câmara." Pulido Valente retorquiu: "A Drª Manuela Ferreira Leite não tem jeito para a política". A jornalista reforça: "Pois não."

E estamos nisto. Paga-se a um comentador para isto. O valor de Manuela Moura Guedes enquanto jornalista não é o que está aqui em causa. O que está em causa é o aligeirar de um espaço que devia ser exímio no distanciamento do jornalista face ás questões que ali se discutem porque já não o é em quase sítio nenhum. É desejável que, e parafraseando o meu professor e ex-jornalista João Figueira, "nos anulemos enquanto elementos enunciadores". A neutralidade é um mito mas a isenção está de boa saúde e recomenda-se.

1 comentário:

Anónimo disse...

o texto ta perfeito, sagaz mesmo. mas ha uma parte que ja sabes q nos vai cAUsar umas boas gargalhadas. ahah. *