sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Aveiro | Sonhos como acidentes de percurso...

Agora já não posso voltar atrás. Está aqui empedrenido como se aqui estivesse já há várias décadas. Fossilizado. Prisioneiro. Ao mesmo tempo que te nego o gosto de saberes de mim, vou compartimentando o meu devaneio itinerante entre aquilo que posso e não posso partilhar contigo sobre mim, com os outros sobre ti. Porque já não existes e agora nem posso pedir-te conselhos. Inúteis e a ti adaptados e ao teu pragmatismo irritante. Aprendi que os nossos problemas, ao sê-lo, são para nós intempéries e para os outros dias com menos abertas. Não insisto em tentar fazer-te ver o quão hipócrita estás a ser ao concordar com o contrário porque dizes que gostas de mim. Dizes-me:
Os teus problemas são os meus.

Um dia vais sentir-te como eu, perturbado mais contigo do que com qualquer outra pessoa. E isto, tão pouco, sou eu. Mais focada no que ainda não fui no meu sonho paredes meias com segredo do que naquilo que se calhar um dia tivemos oportunidade de criar juntos. E sei que não foram dias com poucas abertas. Quero que saibas que vais ser um grande artista. Sempre soubeste ver beleza onde ela não existe.

Vou esquecer-me do tempo que houve entre a primeira vez que foste cordial (e não mais que isso) e hoje - o dia em que sei que não amei nunca nada com violência. Da mesma forma, nunca ninguém assim me quis. O mundo não está mal feito. Só mal explorado.

Um dia, quando conseguir aceitar que não vou viver uma história de amor vou revirar-me nas minhas próprias entranhas a tentar fazer o tempo voltar ao dia em que ias passar da cordialidade ao gesto e eu te detive, por milímetros, de me pores na cara a mão em forma de concha.

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